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23 de Abril de 2024
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    Sérgio Moro: o Carlos Alexandre do Brasil

    sabado.pt

    Senna? Já não: o herói brasileiro do momento é Sérgio Moro, 42 anos, que ouve palmas nas ruas ("Justiça neles!") e críticas dos partidos na imprensa

    Sérgio Moro, juiz federal, tornou-se o maior pesadelo de políticos, empresários, banqueiros e outros poderosos da sociedade brasileira. Pelo menos daqueles que já foram - ou temem vir a ser - incluídos no rol de suspeitos da operação Lava Jato, uma investigação conduzida por Moro em torno de um esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a petrolífera estatal Petrobras, grandes empresas de construção civil e políticos de vários partidos. A investigação transformou-o no novo herói nacional do Brasil.

    Há tempos encaminhou-se, como habitualmente, até ao supermercado mais próximo de casa, em Curitiba, para fazer compras. Foi reconhecido por outros clientes e acabou por ouvir o seu nome a ser anunciado nos altifalantes da loja. Recebeu uma salva de palmas generalizada dos clientes.

    Em Maio, quando foi a uma livraria, em São Paulo, participar na apresentação de um livro, tinha uma multidão à espera, com ramos de flores. A sua entrada foi acompanhada por um coro de gritos "Fora PT!" (um dos partidos mais abalados pelo escândalo do Lava Jato) e "Justiça neles!".

    Um comentador já afirmou: "Depois de Ayrton Senna, o novo herói brasileiro chama-se Sérgio Moro." Há dúvidas? Um inquérito da revista Veja no Twitter escolheu-o como a personalidade do ano em 2014. Outra revista, a Isto É, elegeu-o Brasileiro do Ano. O juiz respondeu: não se considera um herói e o trabalho não é só dele.
    Mas Sérgio Moro está a abalar as estruturas institucionais do Brasil a partir do seu pequeno gabinete em Curitiba. À medida que mais acusados integram o plano de delações premiadas, negociando a redução de penas mediante a revelação de práticas criminosas - sobretudo o pagamento de "propinas" (luvas) a políticos e partidos para facilitarem negócios ruinosos para o Estado -, cresce o pânico entre administradores de grandes empresas, políticos de vários quadrantes, dirigentes da Petrobras e banqueiros.

    A investigação em curso pode, segundo alguns analistas, pôr em risco a sobrevivência dos principais partidos políticos e também das grandes empresas de construção civil, nomeadamente a Odebrecht e a Camargo Corrêa. Os advogados de defesa acusam-no de querer ser não juiz, mas justiceiro.

    Por tudo isto, a revista Época escreveu que "nenhum gabinete concentra tanto poder neste momento no Brasil" quanto o de Moro, "o cérebro e centro moral" da Lava Jato. A investigação mobiliza dezenas de procuradores da República, delegados e agentes da Polícia Federal, equipas da Procuradoria-Geral, em Brasília, e ainda o ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Mas o principal protagonista tem sido Moro. Apontado ao SupremoÀ imprensa, amigos, colegas de trabalho e até alguns adversários têm--no apresentado como corajoso, metódico, discreto e obstinado. Ao que acrescentam a preparação jurídica, o pensamento estratégico, a inflexibilidade de princípios e a disciplina de trabalho.

    Com apenas 42 anos, Moro é considerado já um dos maiores especialistas em casos de lavagem de dinheiro e foi apontado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil como candidato a suceder a Joaquim Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal brasileiro, já no fim deste ano.

    Casado e com dois filhos, tem um estilo de vida frugal. É apaixonado por ciclismo e costumava ir de bicicleta para o trabalho, mas isso deixou de ser possível: o edifício do seu gabinete de trabalho passou a ser vigiado 24 horas por dia pelos meios de comunicação social. Tem de ir de carro, com seguranças. Entra cedo no gabinete, sai tarde e mesmo em casa prossegue o trabalho. À noite, é ele quem vai deitar os filhos. E depois fica a ler uma colectânea de artigos sobre a Operação Mãos Limpas, a célebre investigação judicial em Itália (na década de 1990) que desmantelou uma série de organizações mafiosas com ligações políticas.
    Moro nasceu na cidade de Maringá, Estado do Paraná (cuja capital é Curitiba), onde estou Direito antes de ir para a Universidade de Harvard, nos EUA. É doutorado em Direito, juiz desde 1996 e também professor universitário. Especializou-se em crimes financeiros, tornou-se juiz federal e mudou-se para Curitiba, onde conheceu a mulher, Rosângela Wolff.

    Mais tarde destacou-se no âmbito do caso Banestado, um processo judicial que decorreu entre 2003 e 2007: 103 presos preventivos, 97 condenados. O caso tinha a ver com o envio ilegal de divisas para o exterior por vários bancos brasileiros. Um dos condenados nesse caso foi Alberto Youssef, que é hoje um dos delatores na Operação Lava Jato. Recentemente, colaborou também na fase final do caso Mensalão, até então o maior processo de corrupção do Brasil.

    Corrupção e temas conexos parecem atraí-lo: até escreveu um livro sobre como desvendar e combater as técnicas ilegais - Crimes de Lavagem de Dinheiro (2011) -, que rapidamente se tornou uma referência na área.

    Este artigo foi originalmente publicado na edição n.º 587, de 30 de Julho de 2015. 

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/sergio-moro-o-carlos-alexandre-do-brasil/315795621

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